trad. Cláudia T. Alves
"Os contos aqui selecionados, na brevidade com que constroem seus enredos, flertam com o insólito, o inexplicável, nos fazendo questionar a racionalidade com que pretendemos ler os acontecimentos, ou melhor, com que acreditamos entender o que acontece. Há neles um ar de mistério que não se dissolve (e que felizmente não precisamos compreender). É muitas vezes no espaço íntimo da casa ou das relações pessoais, permeadas pelo afeto, que esse estranhamento aparece com mais força, gerando uma sensação que é ao mesmo tempo incômoda e intrigante. A atmosfera é reconhecível, mas há algo que nos escapa. Para onde essa história vai nos levar? Esta parece ser a pergunta norteadora feita naturalmente quando começamos a leitura de cada um dos contos aqui reunidos, enquanto nos reconhecemos nas angústias ali elaboradas. Ao final, no entanto, os desfechos parecem não coincidir em nenhum dos casos com a hipótese inicial de leitura, de forma que ao longo de todo o livro seguimos nos surpreendendo pela não obviedade dos encaminhamentos." Cláudia T. Alves
TRECHO DA OBRA
Constantemente em viagem, fico mais tranquilo. Habitando de forma transitória lugares que não têm nenhuma implicação comigo, em nenhuma parte do meu viver, consigo evitar as ofensas, conter as rupturas. Por isso parti, continuo partindo. Os desencontros, os conflitos ainda existem, mas acontecem em um teatro aberto, um contínuo alhures. E há sempre a possibilidade de descer, interromper o trajeto. O curso da própria vida, para escolher um outro. Rapidamente e sem consequências do tipo. Com o indispensável em um recipiente anônimo, o essencial de mim sempre comigo. Se, por qualquer razão, a situação se torna insustentável, limito-me a trocar de trem. E recomeça.
SOBRE A AUTORA
Mia Lecomte (1966) é poeta e escritora; italiana de origem francesa, vive na Suíça. É tradutora e atua também como crítica e editora de literatura transnacional, em particular de poesia. Fundou e participa do grupo internacional de teatro poético Compagnia delle poete. Sua produção literária foi traduzida para várias línguas e está publicada em revistas, antologias e volumes monográficos. No Brasil, publicou recentemente a plaquete de poemas Desabitável (Macondo, 2024; trad. Cláudia Alves). Há anos combina poesia e fotografia (www.mialecomte-ph.com).
SOBRE A TRADUTORA
Cláudia Tavares Alves (1988) é professora de língua e literatura italiana na Unesp e doutora em teoria e história literária pela Unicamp. Já traduziu para português Patrizia Cavalli, Cesare Pavese (em parceria com Elena Santi), Mia Lecomte, Francesca Mannocchi, Ilaria Gaspari, Pier Paolo Pasolini (em parceria com Maria Betânia Amoroso), entre outros.
isbn: 978-85-93478-43-7
Ano: 2025
Formato: 11x18
Número de páginas: 84
Edições Jabuticaba é uma pequena editora voltada para a boa literatura. Floresce interessada em divulgar novos autores e a traduzir poetas e prosadores clássicos e contemporâneos que gostaríamos de ver em circulação no Brasil.