Cesare Pavese
tradução e organização: Cláudia T. Alves e Elena Santi
És a terra e és a morte.
Tua estação é o breu
e o silêncio. Não vive
algo mais afastado
da aurora do que tu.
Quando surges desperta
tu és somente dor,
tens nos olhos, no sangue
mas tu não a sentes. Vives
como vive uma pedra,
como essa terra dura.
E te revestem sonhos
movimentos singultos
que tu ignoras. A dor
como a água de um lago
trepida e te circunda.
São círculos na água.
Tu os deixas esvair.
És a terra e és a morte.
Na filigrana da experiência poética proporcionada por Virá a morte e terá os teus olhos, de Cesare Pavese, nos deparamos com momentos diferentes da história, particular e coletiva: duas camadas que se sobrepõem e que por vezes se tornam uma só. O fim da segunda guerra mundial, as vivências e as crises do autor, seus amores trágicos, uma Itália em reconstrução e dividida entre o lamento pelos destroços físicos, políticos e sociais do período fascista e o otimismo em relação ao futuro são alguns dos subentendidos que percorrem o subsolo dos versos. Virá a morte e terá os teus olhos fora organizado por Italo Calvino e Massimo Mila e publicado postumamente, em 1951. Nesta tradução apresentada ao público brasileiro, os poemas da coletânea ganham ainda a companhia de outros poemas esparsos deixados pelo poeta e algumas cartas. Assim, na intersecção entre vida e morte, entre a experiência de amores fulminantes, entre a autoria de Pavese, a organização dos companheiros da editora Einaudi e a organização aqui proposta, a obra se apresenta, trazendo à superfície uma série de tensões e rupturas consequentes desses entrelugares.
SOBRE O AUTOR:
Cesare Pavese (Santo Stefano Belbo, 9 de setembro de 1908 – Turim, 27 de agosto de 1950) foi poeta, escritor, tradutor e crítico literário. Colaborou com a editora Einaudi dirigindo, entre outras, a coleção de estudos etnográficos. Sua estreia na escrita poética se deu com a coletânea Trabalhar cansa (1936), seguida, em 1947, pelo conjunto de poemas de “A terra e a morte”, recolhidos posteriormente no volume póstumo Virá a morte e terá os teus olhos (1951). Mais prolífico na prosa, escreveu diversos romances, entre eles, Mulheres sós (1949), O belo verão (1949) – pelo qual venceu o prêmio Strega, em 1950 –, A lua e as fogueiras (1950), além de várias coletâneas de contos e outros textos em prosa, como Diálogos com Leucó (1947). Destaca-se ainda o diário deixado pelo escritor e reunido em O ofício de viver: diário de 1935-1950 (1952), também publicado após sua morte.
SOBRE AS TRADUTORAS
Cláudia Tavares Alves é tradutora, professora e pesquisadora. Do italiano, traduziu textos de Pier Paolo Pasolini, Cesare Pavese, Amelia Rosselli, Franco Fortini, Goliarda Sapienza, entre outros. Em 2021, publicou pela Edições Jabuticaba a tradução de Meus poemas não mudarão o mundo, de Patrizia Cavalli. É doutora em Teoria e História Literária pela Unicamp e atualmente ensina língua e literatura italiana.
Elena Santi é pesquisadora e tradutora de literatura italiana. Traduziu versos de Giovanni Raboni, Patrizia Valduga, Cesare Pavese, entre outros. Publicou, em 2017, a antologia Vozes: cinco décadas de poesia italiana (Editora Comunità). É professora de língua e literatura italiana da Universidade Federal de Juiz de Fora. É doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina. Suas traduções e pesquisas se concentram na poesia italiana contemporânea.
isbn: 9786500428018
Ano: 2022
Formato: 14x21
Número de páginas: 96
Edição bilíngue
Edições Jabuticaba é uma pequena editora voltada para a boa literatura. Floresce interessada em divulgar novos autores e a traduzir poetas e prosadores clássicos e contemporâneos que gostaríamos de ver em circulação no Brasil.