Tanto tempo

para aprender a escrever

um poema com hortênsias

Clarisse Lyra

Clarisse toca sua lira elétrica em algum lugar da América do Sul. Das meninas que a olham, algumas dançam, outras permanecem absortas em seus livros, outras, ainda, recitam seus horóscopos. Tudo pode parecer meio besta, mas no inferninho nada é o que parece. Por exemplo: o cavalo da escrita derrapa no lodo, deus nos fala pela tela do celular, saber é belo e demente. Clarisse delira elétrica em algum lugar da América do Sul. Às palavras servidas, adicionamos farinha. O resultado é um bolinho, isto é, um planeta, que comemos com as mãos.

Britney Spears

costumavam dizer que o seu gênio era ruim
agora você abre a porta e ouve: oi,
cabeça de vento!
é o momento mais alegre do seu dia
você quer acordar e tomar um belo café da manhã
mas não consegue ir até a cozinha
o que você poderia fazer?
choveu tanto que agora você está deslizando, pensa
vamos falar de premissas
vamos falar de concepções
o que quer que seja
tudo tem e não tem um motivo
agora você está nadando num caldo de vozes
infelizmente a poesia acabou
você sabe disso há
5678 dias
fingir é belo e sábio
saber é belo e demente
longe e perto você ouve
tudo continua
a mãe dá um tapa no filho
o paredão toca pagotrap
a cerveja fala na voz do rapaz
alguém arrota
dá descarga
enquanto isso você se pergunta
como uma criança pode conhecer
todos os seus segredos
se você não tem nenhum

isbn:  978-65-00-39817-5

Ano: 2022

Formato: 14x21

Número de páginas: 52

SOBRE A AUTORA

Clarisse Lyra nasceu em Feira de Santana, na Bahia, em 1988. É poeta, professora, tradutora e revisora. Mestra em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Foi editora no zine Felisberta e coedita a revista Capivara. Organizou e traduziu, junto com Mariana Ruggieri, o livro Discoteca selvagem, da poeta argentina Cecilia Pavón (Edições Jabuticaba).