Mariana Ruggieri
SUNDOWN
é realmente estranho
que essa foto me faça chorar
ela foi tirada em long beach
em long beach ninguém chora
talvez chorem protetor solar
quando tropeçam em patinetes
mas não choram ao ver fotos
com sombras tristes, as longas sombras
do fim do mundo
e o corpo coberto estendido no chão
"Por mais que Sundown nos remeta a uma marca de protetor solar, o primeiro lançado no Brasil pela Johnson e Johnson, capturando, por metonímia, todos os outros do mercado, este Sundown, de Mariana Ruggieri, oficialmente seu primeiro livro de poemas, nos convida a um exercício mais radical: o de procurar olhar para o mundo de forma literal, já que “o sol nasce para toldos”, mas sem deixar de ser delirante, porque ela também já “quis ser leonardo di caprio”. Se há alguma graça nisso, e em várias outras formulações que propõe para si, é por que Mariana escolheu se reinventar pelo riso, ao tomar como ponto de partida o desafio de reescrever um atropelamento.
É, então, pela chave da literalidade que devemos observar este seu pôr do sol, inclusive quando aborda a própria ideia de metáfora, tomada ao pé da letra, como meio de transporte. Assim, “mesmo não sabendo dirigir”, Mariana nos conduz num passeio pela literatura de várias maneiras diferentes – “triciclo”, “rolimã”, “ônibus”, “maria fumaça”, “trem”, “bimotor”, “porta-aviões”, “canoa caiçara”, “jovem cavalinho”, mas não de bicicleta –, como se seu livro fosse uma versão em vigília daquele texto de Roberto Bolaño, “Un paseo por la literatura”, se deslocando por muitas paisagens, também estrangeiras, lugares que produziram histórias em outras línguas.
Estranhamente, quando leio “long beach”, no poema “sundown”, que duplica o livro, eu vejo Praia do Futuro, talvez como Mariana, que via um “corpo coberto estendido no chão”, quando olhava para a foto “long beach”, de Robert Frank, mencionada no poema, mas sempre trocando coisas de lugar, mudando de perspectiva, invertendo posições, já que a imagem, descobri, não trazia um corpo morto, e sim um carro coberto por um tecido branco, lembrando um fantasma. Escrevendo o fantasma. Traduzindo o fantasma. Búúúúú!"
-- Érica Zíngano
SOBRE A AUTORA
Mariana Ruggieri nasceu em São Paulo em 1988. É tradutora e professora de literatura na Universidade Federal do Ceará. Publicou, pelo selo treme~terra, as plaquetes Anzol e A bola é que são elas. Este é seu primeiro livro com lombada.
isbn: 9786501383767
Ano: 2025
Formato: 14x21
Número de páginas: 52
Edições Jabuticaba é uma pequena editora voltada para a boa literatura. Floresce interessada em divulgar novos autores e a traduzir poetas e prosadores clássicos e contemporâneos que gostaríamos de ver em circulação no Brasil.