Mundo Barbie
Denise Duhamel
Edição bilíngue
Tradução: Miriam Adelman, Julia Raiz e Emanuela Siqueira
Quando jovem meus modelos inspiracionais se resumiam à minha Barbie mergulhadora, que eu fingia soldar cascos de navios cargueiros, e Buffy, a Caça-Vampiros. Amava os looks e a eficiência. É assim que crianças aprendem sobre cadeias de produção: sim, toda Barbie é um comentário sobre geopolítica. Aprendi com minha mãe – talvez, tenha sido Cher Horowitz, já não sei – que se minha Barbie soldava cascos de cargueiro, o fazia para garantir que outras chegassem aglutinadas em containers, especialmente aquele rosa, da Ocean Network Express; para isso, eu também poderia ter lido Mundo Barbie de Denise Duhamel.
Mas isso é só um lado da moeda, Barbies são multifacetadas, hoje vêm em diversas cores, talvez em diversos tamanhos, embora não tão diversos assim, afinal, é preciso manter o dinheiro circulando e a Barbie é a garota propaganda por excelência da bilionária indústria plástica (de todas elas, que são duas: a que produz plásticos e a que corta corpos). Lembrando que alguns chamam de procedimentos estéticos, ato que envolve um bisturi e a modelagem de corpos, Sérgio Buarque de Hollanda, de cordialidade. Barbies são cordiais – ou devem ser. Talvez cordialidade seja algo como desejar mesmo quando lhe arrancaram fora as genitálias em um procedimento estético: O clitóris e os pequenos e grandes lábios / seriam os próximos a desaparecer. E sua vagina / tinha sido costurada, depois que os ovários / foram arrancados. Para Barbie / era impossível parir. Inocentemente esfregamos as genitálias sem órgãos de Barbies e Kens, ou de Barbies e Barbies, sem saber que ela nunca precisou disso: uma troca de cabeças seria o suficiente, talvez, o fim do mundo – porque é ok ser ambiciosa também.
É assim que aprendemos sobre perversão e desejo aos 5, e sobre máfia, de novo, looks e eficiência. É tudo sempre sobre looks, neste mundo, especialmente a máfia. Portanto, Mundo Barbie, que saiu dois anos antes de Sopranos e dois anos depois de Toy Story, é uma das mais completas críticas ao governo dos corpos sob o capitalismo. Sigo montando meu guarda-roupa ao estilo Tony Soprano.
Júlia Manacorda
SOBRE A AUTORA
Denise Duhamel (1961) nasceu em Woonsocket, RI, nos Estados Unidos. Duhamel publicou diversos livros, entre eles, Scald (2017), Blowout (2013), Ka-Ching! (2009) e Queen for a Day: Selected and New Poems (2001). Foi finalista do National Book Award e recebeu bolsas para criação literária do National Endowment for the Arts e da Fundação Guggenheim. Atualmente leciona escrita criativa e poesia na Universidade da Flórida.
Isbn: 9786500169232
Ano: 2021
Formato: 14 x 21cm
Número de páginas: 150
Edições Jabuticaba é uma pequena editora voltada para a boa literatura. Floresce interessada em divulgar novos autores e a traduzir poetas e prosadores clássicos e contemporâneos que gostaríamos de ver em circulação no Brasil.