"Embora bem conectada no mundo iídiche e publicada várias vezes na principal revista modernista de Nova York, ךיז-ןיא [in zikh], a obra de Vogel não gozou de muita popularidade em sua época devido ao seu experimentalismo e por evitar temas femininos clássicos. Embora tenha sido muito influente e até mesmo considerada a "matrona" do grupo de artistas galitzianos, os Légeristas, ela permaneceu em grande parte à sombra dos artistas (homens) que a influenciaram e com os quais se associou. Bruno Schulz – a quem Vogel recusou um pedido de casamento – é hoje o mais proeminente deles.
Atualmente, seu trabalho está passando por um renascimento, com livros de traduções acadêmicas de sua poesia e obras completas, sendo publicados em inglês e alemão. Seus poemas apareceram há alguns anos nos muros de Berlim e foram adaptados em canções por músicos na capital alemã e em Nova York." Jordan Lee Schnee
flores de vidro
a lua é uma flor de cerejeira branca.
o odor turvo de uma saudade viscosa
de sete anos.
e os lampiões dos postes
são tulipas amarelas de vidro
plantadas na primeira, segunda e terceira rua.
vidro amarelo,
odor de mãos frescas
e o colar de âmbar da renúncia.
é possível descer a primeira rua.
a segunda.
deixar que fluam gotas da lua azul,
cheirando à saudade viscosa,
e à frieza dos amarelos lampiões da rua.
o que pode cada noite trazer consigo:
além do distante aroma da espera viscosa,
além do aroma frio do vidro da renúncia.
SOBRE A AUTORA:
Debora Vogel foi uma escritora, filósofa e crítica de arte austro-húngara. Nasceu em 1900 na Galícia, a província do extremo leste do Império Austro-Húngaro. Viveu em Viena, Berlim, Paris e Estocolmo antes de se estabelecer na capital da Galícia, Lemberg/Leopolis/Lwów/Lviv, hoje parte da Ucrânia, onde foi assassinada em 1948 no gueto estabelecido pelos nazistas. Filha de uma família de intelectuais polonês-judeus, Vogel representa uma das vozes mais interessantes do iídiche, escrevendo sobre urbanismo em um verso livre modernista que foi pouco apreciado na época. seu primeiro livro de poesia foi publicado em 1930 e o segundo em 1934. Nos últimos anos, sua poesia voltou a ser mais amplamente lida pela comunidade iídiche, e várias novas traduções foram feitas para o alemão, francês e inglês.
Douglas Pompeu vive em Berlim como tradutor e autor. Publicou em 2022 habeas corpus. 12 sonetos e uma ode pública. Atualmente, trabalha em seu primeiro livro de poemas em alemão fiktionsbescheinigung, planejado para ser publicado em 2024. Desde 2017 faz parte da redação da revista literária alba.lateinamerika lesen. Traduziu para o português obras de Jan Wagner, Marcel Beyer, Arno Holz e Kurt Schwitters.
Jordan Lee Schnee nasceu em Boston, Massachusetts, em 1990. É bacharel em Tradução e Linguística pela Universidade de Nova York (NYU). Desde 2011, mora em Berlim, onde fez seu mestrado em Filologia Inglesa na Freie Universität Berlin. Atualmente, trabalha na universidade como professor assistente de literatura inglesa e está fazendo seu doutorado em literatura comparada sobre a cabala e Georges Perec. Ele também trabalha como curador da Haus für Poesie (Casa da Poesia). Além de publicar seus poemas em revistas literárias internacionais, foi tradutor e compilador de Some Dollars, poemas de Washington Cucurto (Eloísa Cartonera, 2016), compilador de Flowers of Glass, poemas de Deborah Vogel (Milena Caserola, 2024) e tradutor de Rockabilly, de Mike Wilson (Diaphanes, 2018). Publicou vários livros de poesia e prosa com a Propellor Berlin (2019-2022), incluindo Unapprehension, Entfassung, The Dreadful Tropics e A Brief Guide to Train Travel in Java.
isbn: 9786500970616
Ano: 2024
Formato: 14x21
Número de páginas: 48
Edições Jabuticaba é uma pequena editora voltada para a boa literatura. Floresce interessada em divulgar novos autores e a traduzir poetas e prosadores clássicos e contemporâneos que gostaríamos de ver em circulação no Brasil.